quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Menina Morta-Viva - Elizabeth Scott

Menina Morta-Viva
Autor(a): Elizabeth Scott
Editora: Underworld 
Ano de lançamento: 2009
Páginas: 172
Classificação: 

"Era uma vez, eu era uma menininha que desapareceu. Era uma vez, o meu nome não era Alice. Era uma vez, eu não sabia como tinha sorte.Quando Alice tinha dez anos, Ray levou-a de sua família, seus amigos ― a sua vida. Ela aprendeu a desistir de todo o poder, para suportar toda a dor. Ela esperou que o pesadelo acabasse.Alice agora tem quinze e Ray ainda a tem, mas ele fala mais e mais da sua morte. Ele não sabe é o que ela anseia. Ela não sabe que ele tem algo mais assustador do que a morte em mente para ela.Esta é a história de Alice. É uma que você nunca ouviu falar, e que você nunca, jamais esquecerá."

Minha história com esse livro é grande. Conheci um livro da autora por acaso, e só de ler o título “Te amo, te odeio, sinto tua falta” fui ganha. Procurei em todo o canto o livro, mas era quase impossível de se encontrar em uma livraria, e quando achava na Internet era em um preço estupidamente absurdo. Desencanei e passei a procurar livros mais “em conta” no meu orçamento. Mas então, em um grupo vi alguém indicando um livro, e o nome da autora me pareceu familiar. Correndo pro Google descobri que era a mesma autora do livro que eu ansiava tanto quando mais nova. Acabei baixando em PDF, já que ainda se encontrava em valores exorbitantes. Mas por incrível que parece, não o li (pelo menos não ainda). Outro livro da mesma autora acabou me chamando atenção... “Menina Morta-Viva”. Outro título chamativo, que desperto minha curiosidade, e em poucos minutos eu já estava encharcando a tela do celular ao me deparar com o drama construído por Elizabeth Scott.

“A verdade é que a gente se acostuma a qualquer coisa. Você pode achar que não, ter vontade de morrer, mas não morre. Não consegue. Simplesmente vai levando.”

Quando tinha dez anos, uma garota virou Alice. Ela teve sua vida tirada de si mesma, para se tornar uma outra pessoa, outra pessoa para Ray. A garotinha de Ray. Alice uma menina que um dia fora egoísta, que um dia podê colocar em seu prato comida o bastante para se satisfazer e para jogar fora o que não queria mais. Alice que um dia teve sua inocência roubada. Alice que agora vive para ser a garotinha de Ray, somente dele. Alice que anseia desesperadamente pela morte. E ela tem certeza de que em breve terá isto. Ela está crescendo, agora com quinze anos, e já não é mais a garotinha de Ray. Ele quer uma criança, sem seios, pequena, magra. E Alice não é mais isso. Mas agora ela tem uma nova missão, achar a garotinha de Ray, e ensinar tudo a esta. E por incrível que pareça ela está ansiosa para fazê-lo.

" TRÊS LIÇÕES DE VIDA:

1. Ninguém vai vê-la;
2. Ninguém vai dizer nada;
3. Ninguém vai te salvar.

Eu sei o que as histórias de Era uma vez dizem, mas elas mentem.
Isso é o que as histórias são, você sabe. Mentiras.
Olhe para isso, quatro lições de vida. Agora você me deve."


Sufocante. Angustiante. Cruel. Assustador. Verdadeiro. Alice aos poucos vai nos mostrando seu mundo. Sua vida com seu “Pai”, Ray. Seus medos. E acredite, após terminar a leitura deste livro, é como levar um soco no estômago. “Alice” não pode crescer. Não pode comer alem do normal. Não pode falar com estranhos. Ela não pode sair sem a permissão de Ray, por isso passa a tarde em casa, assistindo televisão, e roubando as moedas encontradas em qualquer lugar. Assim ela compra comida. Mas Ray não pode saber. E ela não pode mentir para Ray. Nunca. E é na Televisão que ela vê. Pessoas como ela. Que passaram anos sendo abusadas. E ela tem raiva. Porque todo mundo quer saber o porque. Porque não fugiram. Porque não disseram nada para alguém. Porque não tentaram. Parecem perguntas simples para nós, que nunca passaram por isso. Mas Alice sabe o porquê. E se fosse você no lugar da garota, também saberia.

'Comece a se desculpar agora, ele diz, e empurra minha cabeça em seu colo. Enfia os dedos com força em meu ombro.
Odeio o Ray. O pensamento surge como a dor e fica latejando, gritando. Odeio, odeio, odeio.
Tinha me esquecido de quanto doem os sentimentos.”


Ray  é um personagem assustador. Não só pelas coisas que ele faz ou diz para “Alice”, mas pela normalidade dele. E assim você percebe como um psicopata deve ser. Todos no prédio o elogiam por ser um bom pai. No trabalho ele é o “Ray silencioso”. Ele é bom em mentir, ele é bom em ser normal. Mas ele não é. Ele é louco. Várias vezes podemos perceber sua insanidade quando conversa com Alice. Ele diz que a ama, que é a garotinha dele, e que não quer machucá-la. Ele a ameaça. Ele diz que as pessoas não sabem amar as crianças da maneira certa. Ele quer cuidar delas. De todas. Só que tem uma imagem distorcida do que seria cuidar. E ao ler esse livro, fico me pergunta os milhares de Ray’s que vivem por aí, possuindo as milhares de Alice’s. Ele é de longe o pior vilão que eu conheço. Eu odeio. Odeio mais do que qualquer outro vilão que já tenha existido. Odeio. Simplesmente odeio. E tenho certeza, de que você também vai odiar.

" Era uma vez aquele instante em que o mundo de uma garotinha acabou. "

A temática em si, já é assustadora. Mas ao vermos isso no olhar de uma criança, o pelo menos de uma garota que deveria ser uma criança, tudo fica mais angustiante. E você quer terminar, quer muito terminar, mas apesar de ser um livro curto, o final não vêm, e você fica preso, sufocado naquelas páginas. A forma inocente como Ray rapta “Alice” é bizarra, bizarra, e tão real. O livro inteiro é assim. A escrita é desesperada. Podemos perceber isso na narrativa que a autora conduz. Ela não usa vírgulas em alguns determinados momentos, e não por erro, e sim como se ela estivesse prendendo a respiração na hora de escrever, assim como prendemos a respiração na hora de ler. Deixando tudo mais rápido e sufocante. Assim como a estória em si é.

"Não crescer nunca.
Talvez funcione em historinhas infantis.
Tente dizer isso enquanto uma mão quente e pesada a belisca para se certificar que você ainda é uma criança.
Tente dizer isso quando é impedida de crescer, quando está presa para sempre no que outra pessoa quer que você seja."


O que Alice se tornou. Isso é o que choca. Ela não tem sonhos, não tem esperanças, não tem nada. E o título se encaixa perfeitamente aí. Ela é uma garota morta-viva. Presa nesse mundo, ms sem viver de verdade. Passando dia após dia apenas continuando, sem viver verdadeiramente. E no momento em que Ray decide ter uma nova garotinha, isso é como se fosse um baque. Porque ela também quer isso. Quer tanto quando Ray. Ela não se importa que a garota tenha os sonhos roubados. Ela não se importa que a garota se torne uma nova versão dela. Ela quer isso, porque, se acontecer, Ray não precisará mais dela. E ela poderá ser livre.

"Não posso sonhar com nuvens, mas posso ver a faca no balcão da cozinha. Posso sonhar que ela está entrando em mim, me abrindo e me fechando."

Não chorei em grande parte do livro, mas passei ele inteiro com a garganta apertada, seca, sem ar. E no final, é impossível se segurar. Era como se soubéssemos o que aconteceria, mas no fundo, ainda queremos acreditar. E por isso que é uma história dura. Porque é real. Abre nossos olhos para o mundo, querendo ou não. É triste. Nos faz sentir na pele de Alice. Nos faz entender essas garotas. Nos faz querer – mais ainda – nunca ser uma delas. E por isso posso considerar um dos melhores (sem exagero algum) livros que já li. Leitura obrigatória, por mais difícil que seja, todos devem ler.

“A culpa é toda nossa. Sempre.”

4 comentários :

  1. Se o livro for tão bom quanto a sua resenha, me ganhou! - Só a sua resenha já prendeu meu folego e me fez muito ter o livro para ler agora mesmo! Vai para minha lista de "vou ler"!

    Vícios & Literatura

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  2. Gostei do plot, não li nada da autora. Mas tenho vontade de ler o outro livro dela que você citou.
    Ah eu leio em PDF também, sem dó. Peguei trauma de gastar 50 reais em livro pra ser ruim HAHAHA

    Ray, acho que já te odeio.. só acho

    bjs e bom final de semana
    Nana - Obsession Valley

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  3. Tô precisando de livros que despertem esses sentimentos que voce descreveu. Se for tão intenso assim, deve ser um prato cheio. Gostei da sua resenha e irei ler.

    http://cantinadolivro.blogspot.com.br

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Beijinhos
Yasmin